31 de out. de 2008

segmentos

todos os modos de subjetivação são lícitos
ler galhos é percorrer caminhos

cada um é um planeta
num pluriverso
não há o que particionar
nem categorizar

as relações são entre subjetividades
entre galáxias e histórias
e a leitura pode ser tão inventiva quanto a escrita

o texto são palavras
e o leitor é o que vê, interpreta
cada olhar uma versão

translocação

resta-me a dor
de me dar o que mereço
num dado ardor de ver
a face que me rói
o resto do meu rosto

a cor do ar que vem
colorindo o ido no voltar
no ato de poupar a falta
e violar o excesso

24 de out. de 2008

Desabafo

Minha alma arde em mil desejos, milhões de angustias, oca e fria. Não temo o que há por vir, mas abomino a mim mesmo. Infindáveis dias de trevas, péssimos lampejos de luz. Não admiro mais o que é belo, o que não deixa de ser uma virtude. Tudo me aborrece! O que me extasiava outrora, hoje nem me arranha. Não sou o portador da luz, muito menos filho do dogma. Não quero ir, muito menos quero ficar. Paro aqui...

15 de out. de 2008

Clube da Luta

              O filme “Clube da Luta” apresenta a vida de uma pessoa “comum”, um sujeito que trabalha para uma empresa de automóveis e leva uma vida que se resume em trabalhar, consumir, dormir, viajar a trabalho, trabalhar, consumir, dormir, e assim por diante, repetidamente. O personagem se encontra numa situação problema quando começa a ter insônia, e aos poucos vai começando a perceber, em frente a uma máquina fotocopiadora, que sua vida não passa de uma cópia, de uma cópia, de uma cópia...

              Ele procura médico em busca de algum remédio que o faça dormir, e o médico diz que não pode receitar. Ele diz que está sofrendo, e o médico diz que se ele quer ver mesmo sofrimento, que visite grupos de apoio para portadores de câncer de testículo. Ele começa a visitar reuniões do grupo e passa a se sentir bem e voltar a dormir tão bem quanto uma criança. Logo ele busca por grupos de portadores de outros tipos de câncer e se torna um viciado em grupos de apoio. Até que, um certo dia, se depara com Marla, uma depressiva com ideação suicida que também visita os grupos de apoio ao câncer, sem ter câncer. A mentira de Marla reflete sua mentira e ele não consegue relaxar com isso, fazendo com que ele volte a perder noites de sono.

              Após uma viagem de trabalho, ele se depara com seu apartamento explodindo inesperadamente, exatamente no dia em que ele conhece Tyler Durden, um sujeito subversivo que possui ideais revolucionários e uma linguagem de terrorismo poético, ele trabalha em empregos noturnos, e vende sabão que ele mesmo fabrica com banha de lipoaspiração roubada de clínicas de estética. Como não há para onde ir, após o apartamento detonado, Tyler passa a hospedar o personagem principal em sua residência, um casarão abandonado. Juntos eles fundam o Clube da Luta, com a proposta de que se encare a vida como algo a ser experimentado, para que ela tenha sentido, "quanto você conhece de si mesmo se nunca entrou numa briga?". As vivências dele e de Tyler vão se entrelaçando, o que conduz e potencializa um jogo esquizofrênico entre um deles, ou os dois.

              Em meio as lutas, Tyler diz frases que transmitem seus parâmetros que quebram com a maneira pela a qual encaramos a vida cotidianamente. Algumas das frases serão associadas a críticas a sociedade de consumo, as frases ditas por Tyler Durden estão entre aspas. Um dos pontos centrais do filme está relacionado com o que fazemos de nossas vidas. Geralmente trabalhamos para produzir o que não consumimos, muitas vezes, consumimos o que não é necessário, guardando em nossas vidas um estoque de coisas que não utilizamos e não utilizaremos para quase nada, e, por fim, nunca ficamos satisfeitos.

              "Você não é seu emprego ou o dinheiro que possui", "as coisas que você possui acabam te possuindo", tudo o que é preciso para esse sistema funcionar são de pessoas para produzir de um lado, e pessoas para consumir, de outro. Que o gasto com a produção seja baixo e o valor do produto, alto. O que gera o tal do lucro de alguns, fomentando a ganância. E, o pior de tudo, é que somos nós os que produzem e consomem, assim servimos de baterias condutoras desses processos. "Essa é a sua vida e está acabando a cada minuto".

              Por que não estamos habituados em consumir somente o que realmente precisamos? Por que consumimos qualquer coisa que a propaganda tenha veiculado aos nossos sentidos? Por que nos submetemos a trabalhar em serviços que não gostamos? Tyler diz que “A propaganda nos faz correr atrás de coisas e a trabalhar em empregos que odiamos para comprar porcarias de que não precisamos."

              Isso tudo gera uma cultura do individualismo egoísta que exclui a existência do outro como pessoa, cada um quer se importar com seu dinheiro pois o que almeja são objetos a serem comprados, é o 'ter' e não 'ser'. "Você nem quer saber onde moro, o que sinto, como alimento meus filhos ou como vou pagar o médico se ficar doente”.

              Não podemos esquecer que vamos morrer um dia que e a nossa vida terá sido sempre a mesma se não mudar a maneira de encarar as relações, e, quando morrermos não teremos mais nada de nada, principalmente não teremos nós mesmos – o que passamos por muito tempo deixando de lado. "Estamos arriscados a morrer a qualquer hora, a tragédia é que não morremos.".

              Por fim, “fomos criados pela televisão para acreditar que um dia seríamos ricos, estrelas de cinema e do rock, mas não seremos, e estamos aos poucos aprendendo isso", Tyler Durden.


Bruno Carrasco, Outubro de 2008.