27 de jul. de 2008

Ato de Coragem

SENTENÇA INUSITADA DE UM JUIZ, POETA E REALISTA
Esta aconteceu em Minas Gerais (Carmo da Cachoeira).

O juiz Ronaldo Tovani, 31 anos, substituto da comarca de Varginha, ex-promotor de justiça, concedeu liberdade provisória a um sujeito preso em flagrante por ter furtado duas galinhas e ter perguntado ao delegado: "Desde quando furto é crime neste Brasil de bandidos?"
O magistrado lavrou então sua sentença em versos:
No dia cinco de outubro
Do ano ainda fluente
Em Carmo da Cachoeira
Terra de boa gente
Ocorreu um fato inédito
Que me deixou descontente.

O jovem Alceu da Costa
Conhecido por "Rolinha"
Aproveitando a madrugada
Resolveu sair da linha
Subtraindo de outrem
Duas saborosas galinhas.

Apanhando um saco plástico
Que ali mesmo encontrou
O agente muito esperto
Escondeu o que furtou
Deixando o local do crime
Da maneira como entrou.

O senhor Gabriel Osório
Homem de muito tato
Notando que havia sido
A vítima do grave ato
Procurou a autoridade
Para relatar-lhe o fato.

Ante a notícia do crime
A polícia diligente
Tomou as dores de Osório
E formou seu contingente
Um cabo e dois soldados
E quem sabe até um tenente.

Assim é que o aparato
Da Polícia Militar
Atendendo a ordem expressa
Do Delegado titular
Não pensou em outra coisa
Senão em capturar.

E depois de algum trabalho
O larápio foi encontrado
Num bar foi capturado
Não esboçou reação
Sendo conduzido então
À frente do Delegado.

Perguntado pelo furto
Que havia cometido
Respondeu Alceu da Costa
Bastante extrovertido
Desde quando furto é crime
Neste Brasil de bandidos?

Ante tão forte argumento
Calou-se o delegado
Mas por dever do seu cargo
O flagrante foi lavrado
Recolhendo à cadeia
Aquele pobre coitado.

E hoje passado um mês
De ocorrida a prisão
Chega-me às mãos o inquérito
Que me parte o coração
Solto ou deixo preso
Esse mísero ladrão?

Soltá-lo é decisão
Que a nossa lei refuta
Pois todos sabem que a lei
É prá pobre, preto e puta...
Por isso peço a Deus
Que norteie minha conduta.

É muito justa a lição
Do pai destas Alterosas.

Não deve ficar na prisão
Quem furtou duas penosas,
Se lá também não estão presos
Pessoas bem mais charmosas.
Afinal não é tão grave
Aquilo que Alceu fez
Pois nunca foi do governo
Nem seqüestrou o Martinez
E muito menos do gás
Participou alguma vez.

Desta forma é que concedo
A esse homem da simplória
Com base no CPP
Liberdade provisória
Para que volte para casa
E passe a viver na glória.

Se virar homem honesto
E sair dessa sua trilha
Permaneça em Cachoeira
Ao lado de sua família
Devendo, se ao contrário,
Mudar-se para Brasília!

21 de jul. de 2008

Ato II

Caro amigo,
os últimos dias tem sido bem bizarros à minha torpe visão...
Às vezes me sinto como um estranho, no meio dessa imensidão de pessoas que vomitam falsos ideais... Todos reclamam de suas vidas, galgam suas aspirações na cobiça, mas por uma "educação ideológica" proclamam as maiores injustiças. Não hesitam em apontar culpados...
Uma visão me estarreceu! Uma senhora de classe média à qual tenho contato, me disse com os olhos lacrimejando, que a muito não via uma barbaridade tão grande como a morte do menino baleado pela polícia carioca...
Senti náuseas! No mesmo instante, percebi que vivemos numa terra de cegos, surdos e mudos! E que o ultimo sentido que restou à MASSA foi a mídia...
Milhões de pessoas morrem todos os dias, muitas do mesmo modo que o pequeno menino: no braço armado dos Estados... Mas esta é uma pequena parcela! A maior parte, esta sim, desprezada pela mídia, morre da forma mais cruel e abominável que existe: O DESCASO!!!

Pessoas que morrem no anonimato, que nunca tiveram acesso à DIGNIDADE, dignidade esta, "ofertada" por seus Estados em tão lindos versos petrificados em suas Cartas Magnas...
Seres humanos, que desde o dia de seu nascimento, provaram do gosto da morte em doses homeopáticas: um pouco de fome aqui, uma enfermidade acolá...
Mas aos olhos da maioria, estas pobras vítimas nunca tiveram nome! E a elas não existem lagrimas, mas não lhe faltam uma cova rasa e uma pá de cau!
O que na TV não se vê, o coração não sente.

À família do menino vitima do engano, minhas condolências!
À sociedade como um todo: meus pêsames!

Todos querem justiça! Mas o que é justo?

4 de jul. de 2008

observando e andando

Cara, continuo observando árvores, mesmo percebendo que não sou o mesmo a cada momento que passa, tenho parado alguns momentos ao acaso - quero sentir sol e água, nem somente água e nem somente sol, a mistura de trânsito com cães me olhando com cara de fome me fazem sentir náusea do prefeito atual - a política continua de férias...
Tem muita gente andando por aí, de um lado pro outro, achando que sabe onde vai. Eu não sei. O que sei agora é que atum é muito bom, principalmente com o tal do shoyu no sushi, e que o dia é curto, apesar de longo.
Por vezes tomo café, outras não tomo; tem dias que corro para não perder ônibus, e perco - outros dias não vou, sento no chão e olho para o céu e geralmente acompanho o sol chegando à vista todos os dias; por vezes tomo chá, outras não tomo.

Ato I

Caro amigo,
Noite passada, tive um sonho que me causou incomesuravel furor seguido de uma imensa frustração. Sonhei que era tão rápido como um vulto, podia tocar a Terra o tempo todo e mesmo assim seguir. Senti-me tão leve e livre. Não mais carregava vícios, dogmas, vaidades, paixões ou mesmo virtudes. Posses e ambições, não mais existiam muito menos direitos e deveres. Sentia a ardência do sol, o frio das trevas, a certeza do incerto e atração pelo rubro. Bradava monólogos aos quatro ventos enquanto o chão que tocava teimava em ganhar movimento.
Desprovido de qualquer ferramenta racional, somente com a alma pela primeira vez me senti vivo. Mas instantes após escapar das garras de Hypnos, me senti humano outra vez.